EM SUA MISSÃO, EM QUE A IGREJA TEM ERRADO?

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Imagem: Facebook

Seria muito óbvio responder ao título desta publicação afirmando que o erro da Igreja tem sido não viver segundo as Escrituras. De fato é isso mesmo, mas, ser tão óbvio a esta maneira é ser igualmente cruel com aqueles que realmente estão vivendo cada entrelinha da Lei de Deus, muito embora sob a influência do Espírito Santo. Diante disso, cabe-nos uma pausa para refletir sobre alguns pontos dos quais nos ajudam a compreender em que a Igreja, de uma forma geral, tem errado. Vamos começar pelo melhor, a Bíblia Sagrada. Se considerarmos as palavras de Paulo a Timóteo, por exemplo, instigando-o a pregar a Palavra quer fosse oportuno ou não (II Tm 4.2) temos uma prova incontestável de que um dos maiores erros da Igreja tem sido a sua Hermenêutica, afinal, interpretar, culturalmente falando, seja lá o que for, é algo pessoal e intransferível, e até merece todo o respeito. Todavia, não estamos falando de Hermenêutica a partir do senso comum, o meio em que a pessoa que interpreta vive ou a ideia de que a Bíblia se compreende lendo uma ou duas vezes e começando a falar simplesmente o que achou. Ora, isso não passa de preguiça e achismo, e se estamos falando da palavra que não contém, mas é a Palavra de Deus, isso merece de nós toda reverência, dedicação e temor.

Acerca do Texto que me referi, como qualquer Texto da Bíblia, para que tenhamos a correta interpretação e consequentemente a perfeita aplicação é necessário considerar alguns pontos dos quais mencionarei apenas dois por entender serem suficientes para a discussão em pauta. Primeiro, cada texto possui o seu devido contexto e com os 83 versículos da segunda carta de Paulo a Timóteo não é diferente. O que Paulo está argumentando é que Timóteo utilize a sua vida em fidelidade contínua a Cristo, ao Seu Evangelho e ao próprio Paulo por ser o apóstolo enviado pelo próprio Jesus a mentorear Timóteo e a igreja local, neste caso. Segundo, não se pode aplicar o que o Texto diz ao que ele não diz. Por exemplo, se eu achar que pregar a Palavra quer seja oportuno ou não é o que eu devo fazer sem ponderar em quem e para quem tais palavras estão sendo direcionadas, eu estou sendo meramente mal educado, e, com certeza, a Bíblia não está me pedindo para ser mal educado, pelo contrário, Jesus deixou bem claro que as Boas Novas devem ser oferecidas preferencialmente às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.6), afinal, nem todo aquele que ouve o Evangelho é, de fato, um eleito de Deus que ainda não foi encontrado por Ele (Mt 13.14,15), mas, se a Palavra do Senhor precisa ser pregada é para que a sua justiça seja conhecida diante de todos, independente se crerão ou não, até porque esta responsabilidade de conversão não pertence a nós, mas ao Santo Espírito do Senhor (Mt 24.14). A carta é escrita principalmente para Timóteo mas também para um grupo de cristãos liderado por ele (II Tm 4.19,20), portanto, ela foi escrita para pessoas já salvas, não esqueça disso.

Agora vamos pensar da seguinte maneira: da mesma forma que nós recebemos as boas novas e fomos alcançados porque foi nos dada a fé para crer no que ouvimos, para outros as mesmas boas novas não foram aproveitadas pela falta de fé, e isto não vem de nós, é dom de Deus. Sendo assim está muito claro que a salvação ocorre não por oportunidades, como se o homem tivesse a decisão de se salvar a si mesmo apenas por dizer "eu creio", mas, se a fé não for dada por Deus a quem ouve o Evangelho, não haverá salvação (Ef 2.8,9; Hb 4.2). Diante disso, por que apressar-se para salvar seja quem for, da maneira que der, faça chuva ou faça sol, como dizem, se ninguém salva ninguém? Por que criar movimentos, ideias, discursos emocionantes, testemunhos eletrizantes, eventos mera e politicamente gospel, shows, outras apresentações artísticas e tantos outros entretenimentos que insistem em apresenta-los como instrumentos de pregação da Palavra, e pior ainda, como elementos de culto a Deus? Qualquer pessoa regenerada pode falar de Cristo a tal ponto de o ouvinte ser convencido pelo Espírito e voltar-se para Deus, contudo, quem pode expor o Evangelho em suas minúcias, desde a sua originalidade, dos termos em hebraico, aramaico e grego, corrigindo tantas traduções erradas e heréticas em nosso idioma, entronizando o Senhor dos exércitos e autor das Escrituras, descomplicando a absolvição dos pecadores pelo poder do sangue de Jesus, são aqueles chamados por Deus ao ministério da Palavra, levados ao estudo sistemático da Bíblia e treinado por homens piedosos na boa Teologia, como Timóteo. Respeitam o engenheiro de renome, o juiz de direito que fala vários idiomas, o cirurgião que "salva" vidas, o pós doutor em biologia, etc. Ninguém calcula, somente o engenheiro. Ninguém legisla, somente o juiz. Ninguém sutura com perfeição e tranquilidade, somente o cirurgião. Ninguém descomplica a genética, somente o biólogo. Todos, então, são expositores do Evangelho?

Assim, o grande erro da Igreja em sua missão é querer pregar qualquer coisa que ouve, lê, canta e acha. A maioria das pessoas ditas cristãs de hoje nascem, crescem, ouvem o Evangelho, convertem-se a ele, mas não são estimuladas pelos líderes a crescerem no conhecimento e na graça do Senhor Jesus, pelo contrário, ouvem uma opinião de alguém bonito, famoso, de boa lábia, não percebem a falta de conteúdo bíblico e teológico, mas aplaudem, curtem, compartilham, discutem e dão a vida por meros baldes vazios, atulham seus neurônios de histórias pessoais de pastores locais fracos e sem biblicidade, são atraídas por discursos empolgantes de alguns pastores famosos desta geração de adoradores extravagantes, sem reverência, sem conteúdo, que berram e cospem em suas ministrações, que avacalham e ridicularizam a tradição cristã, que escarram sobre as páginas da Bíblia, que socializam o sermão bíblico e fazem seus ouvintes rirem na hora da pregação, que vestem uniformes com frases feitas, versículos isolados e consequentemente fora de contextos, que sentem falta por seus ouvidos coçando até extirpar a pele e o sangue escorrer, que ejaculam o pior da promiscuidade sobre a santidade do Todo-Poderoso, que vomitam as próprias heresias e a comem novamente. Agora pense comigo o seguinte: todos querem pregar, todos querem ganhar almas para Cristo, todos querem demonstrar a sua própria beatice (dizendo que é santidade) gritando pelas esquinas dos grupos de WhatsApp e nas reuniões de liderança e rol de membros da igreja, mas ninguém tem pressa para correr chorando, contrito e convicto de sua natureza pecaminosa em direção aos pés de Jesus. Voltemos para as Escrituras!

O Prolífico.

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