POR QUE É TÃO DIFÍCIL PASTOREAR NOS DIAS DE HOJE?

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Imagem: Google.

Para responder a esta pergunta é preciso partir da seguinte linha de raciocínio: estamos falando de pastorear biblicamente, e não como qualquer pessoa tente achar ou supor. Disto isto, acrescento que não se restringe aos dias de hoje a dificuldade de pastorear, tendo em vista tantos homens chamados por Deus para o ministério pastoral ao longo da história da Igreja sofrerem significativamente ao apascentar as ovelhas do Senhor. Vejamos, por exemplo, três grupos de expositores da Bíblia, dos quais você mesmo pode verificar nos livros de história, os pré-reformadores, os reformadores e os pós-reformadores. Que noção nós temos ao consultarmos a história a respeito do árduo trabalho daqueles homens tomados de sabedoria das Escrituras, tementes a Deus, confiantes em Cristo e movidos pelo Espírito. E se buscássemos os antigos profetas de Moisés até João Batista que, mesmo não tendo sido utilizado o termo "pastorear", foi exatamente isso que eles fizeram? E se pensássemos nos apóstolos e consequentemente em seus discípulos? E nos tantos pastores de tantas denominações, as bíblicas, ao longo dos anos? Seria muito relevante trazermos à memória as lutas desses valentes de Deus. Nos dias de hoje a tarefa pastoral é tão árdua quanto em qualquer momento da história da Igreja, dada as devidas proporções. Se você é chamado para o santo ministério pastoral, mesmo que você esteja exaustivamente sabido de como é penoso este ofício, na atuação dele é que vemos e sentimos na própria pele este caminho, ora plano, ora íngreme, mas sempre complicado. Há quem sustente a ideia de que a maior dificuldade é pelo fato de estarmos lidando com gente, porque onde tem gente, dizem a maioria, aí está a dificuldade em lidar. Mas eu acredito que esse é um conceito muito raso, uma explicação de um mero comerciante que trata seus clientes como objetos desejosos de consumir os seus produtos ou serviços, embora haja exceções. E se assim for, os pastores que usam dessa explicação para elevar suas posições de que ninguém faria como eles se estivessem em seus lugares, logicamente pensam na Igreja do Senhor como um comércio, onde os crentes são objetos desejosos de consumir os seus produtos ou serviços, e nada mais. Ser pastor atualmente tem sido conflituoso em muitas áreas. Ser pastor hoje é ser motivo de piada nos comentários das redes sociais dentro de qualquer assunto a ser discutido, é ser um "meme" ambulante, uma peça de escárnio, um alvo para todo tipo de violência. Claro, estou falando a partir do ambiente livre e espontâneo em que a legislação brasileira permite, afinal, aqui ainda é possível vestir uma camisa com o nome de Jesus em público, de acordo com a nossa lei, mas em tantos lugares no mundo isso é mortífero. Diante do exposto, quero enumerar aqui algumas respostas que explicam o porquê de ser tão difícil nos dias de hoje pastorear.

1. Ser bíblico é ser chato para as pessoas em geral. Sim, ser bíblico é ser chato, antiquado, quadrado, etc., para muitos. O que não assusta (ou não deveria) é que ser bíblico incomoda as pessoas sem Cristo, porque isso é, inclusive, um sinal de que estamos sendo realmente cristãos. Todavia, há, dentro da Igreja, pessoas e grupos de pessoas que se incomodam pelo fato de sermos bíblicos, por não levarmos os ouvintes no momento do sermão às gargalhadas e, pelo contrário, mostrarmos na Bíblia o quanto somos miseráveis e sentenciados à morte eterna se não estivermos na pessoa e no sangue poderoso de Jesus Cristo. Pastorear sendo bíblico é muito difícil.

2. Pastorear sendo bíblico não enche igreja. Ver muitos lugares vazios nos bancos da igreja em pleno culto de domingo a noite, para muitos, é motivo de fracasso pastoral e/ou de pecado dentro da igreja. Em primeiro lugar, valorizar apenas o culto de domingo a noite é ser hipócrita. Em segundo lugar, perceber lacunas nos bancos ao invés de concentrar-se na adoração coletiva a Deus e no alimentar-se da sua Palavra, significa que o Cristo verdadeiro não está sendo o centro da adoração, mas a idolatria de ver a igreja cheia de pessoas rindo e sendo enganadas com histórias pessoais, extrabíblicas e aleatórias é o que realmente importa, e isso está errado. Entretanto não estou dizendo que é inaceitável notar a igreja vazia, mas sim colocar isso como o centro de uma discussão desenfreada. Uma coisa é a preocupação em ver uma igreja grande com poucas pessoas, outra coisa bem diferente é achar que uma igreja lotada é sinônimo de santidade e fervor bíblicos. A pregação genuína do Evangelho incomoda, porém, corrige, edifica e alimenta. A exposição fiel do Evangelho aproxima as ovelhas do Senhor e da sua igreja, fortificando-a, e afasta os lobos. Pastorear sendo bíblico não enche igreja, mas enche o Senhor da Igreja de honra, e isso é muito bom, mas também muito difícil.

3. Lutar para continuar sendo bíblico é ser fundamentalista para as pessoas em geral. Ser bíblico é o correto a ser feito, mas somos propensos a nos imaginar sendo bíblicos em um culto apenas. Ser bíblico em todos os cultos, reuniões, visitas, acampamentos, passeios, bate-papos, etc., é algo que tanto satisfaz continuamente as ovelhas do Senhor como também irrita continuamente os lobos devoradores que, acredite, podem levar anos até que sejam completamente afastados da comunhão dos santos. Aliás, até que o Senhor volte, isso é rotativo. Uns (lobos) saem, outros vêm. Assim, receber o "título" de fundamentalista por tais carnívoros de pelagem cinza é, no mínimo, normal, pois além disso comprova a fidelidade do pastor para com a Bíblia Sagrada pelo fato de que as suas exposições causam coceira nos ouvidos de quem não pertence ao Sumo Pastor. Portanto, ser um pastor bíblico lutando para continuar a ser bíblico é muito difícil.

4. Ser bíblico é ser ético, e isso incomoda boa parte da cúpula. Se tivéssemos dificuldades apenas com aqueles que não são pastores e nem crentes, por mais cansativo que seja, seria bem melhor. Contudo, boa parte da cúpula é tão relutante com a verdade do Evangelho quanto os maus liderados. Afinal, é bom que se diga que nós, líderes, não somos melhores do que ninguém, e ainda somos humanos pecadores como qualquer um, tampouco somos dotados de alguma sobrenaturalidade que nos torne intocáveis. Na verdade, a tarefa que nos foi dada por Deus nos traz uma responsabilidade muito maior em sermos, não necessariamente impecáveis nem perfeitos, mas irrepreensíveis, o que é totalmente diferente. Além disso, qualquer cristão que não exerça o ministério pastoral também lhe é conferido a irrepreensibilidade mediante a graça especial de Jesus Cristo, embora em proporção menor, mas do mesmo Senhor. Quando falamos em incômodo de boa parte da cúpula não podemos inventar algo que a Bíblia já definiu. Pastores que ocupam essa função e relutam contra a verdade do Evangelho manipulam muita coisa, interferem em tantas outras e ridicularizam o nome do Senhor e da sua Igreja, portanto, são inimigos da Igreja e, em tempo oportuno, serão cobrados. O que causa tristeza é saber que muitos nem precisam exuberar títulos facciosos e desnecessários, como os neoapóstolos, por exemplo, mas apenas uma cadeira em uma simples organização de líderes para pintar e bordar. Ser um pastor bíblico é ser ético e isso incomoda muita gente, além de ser muito difícil.

5. Viver o Evangelho é procurar perseguição, mas acima de tudo, exaltar a Deus e edificar pessoas. Nada de achar que ser bíblico é garantir um lugar no céu. Estamos garantidos na eternidade com Cristo por causa da eleição dele, não pelo que fizemos ou faremos. É claro que dizer que viver o Evangelho é procurar perseguição trata-se de uma maneira de se expressar, significa que uma coisa leva a outra. Ninguém sai às ruas pedindo para ser perseguido, no entanto, viver o que expomos acerca das Escrituras é ser alvo de perseguição por todos os lados, inclusive dentro da nossa própria igreja. Dito isto, nós, pastores piedosos chamados por Deus para apascentar as suas ovelhas, devemos nos concentrar nestes dois pontos: exaltar a Deus e edificar pessoas. Não se exalta a Deus honrando qualquer coisa ou pessoa. Não é possível exaltar a Deus pregando a nossa própria vida como se fôssemos capazes de converter alguém. Não existe lógica em falar de grandes homens e mulheres como se fossem perfeitos e tivessem sido crucificados no lugar de Cristo para honrar a Cristo. O Senhor Jesus Cristo foi quem criou os céus, a terra e tudo o que neles há, foi quem veio como homem, morreu por nós, ressuscitou, subiu aos céus e continua lá e conosco até a consumação dos séculos, portanto, ele não precisa da história de ninguém, do esforço de ninguém, tampouco da nossa pregação para que seja enaltecido e reconhecido como o único Deus soberano sobre tudo e todos. Pastorear nos dias de hoje é muito difícil, mas é uma honra para o nosso Deus, e é isso o que importa.

O Prolífico.

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