O QUE O EVANGELHO NÃO É EM 4 RESPOSTAS

0
Imagem: Pawel Kuczynski.

Eu estou convencido já faz algum tempo de que o Evangelho se tornou uma moeda de compra e venda de muitas coisas. Eu diria que uma, apenas uma das causas tem sido o descomprometimento com a identidade denominacional, o que inclui termos teológicos e históricos. É nítido que de umas décadas para cá uma fração significativa de cristãos tem se desviado de suas ênfases bíblico-teológicas, historicidade eclesiástica, tradição e, por consequência, suas raízes denominacionais. Isso tem levado ao descabimento e até mesmo ao abandono exegético no ato de expor a Bíblia. Apologética? Muitos nem se lembram do que se trata, outros nem sequer sabem, e muitos que sabem a condenam. Praticamente toda a geração atual, aqueles que começaram a frequentar uma igreja evangélica nesta ou na década passada, não aprenderam nem ao menos o suficiente para que pudessem caminhar com as próprias pernas, porque quem os ensinou, na maioria, igualmente não aprenderam o suficiente. Eu não estou falando que o cristão precisa aprender sobre Deus e a sua Palavra até que se virem sozinhos a partir de um determinado ponto, isso seria contradizer a mim mesmo e a Bíblia. Estou defendendo a ideia de que a Igreja de Cristo é composta de pessoas que devem caminhar juntas rumo ao novo céu e a nova terra, mas que cada um possui a sua devida responsabilidade de ser capaz de seguir a Cristo seguros de Seus ensinamentos a ponto de não caírem em qualquer vento de doutrina que lhe pareça atraente, é por isso que Paulo afirma isso, mas salientando a necessidade de líderes que tenham, pelo menos, a vergonha de serem o que dizem que são (Ef 4.11-16), pois uma coisa é certa: nem sempre dispomos de líderes capazes, as vezes, eles nem são convertidos. Todavia, isso não é desculpa para que não sejamos responsáveis. Temos o nosso líder como aquele que caminha conosco liderando-nos, mas temos também a liberdade de acessar a Deus mediante Cristo, não através do líder. Ademais, quem escreveu aos Hebreus também falou algo a respeito nos encorajando a sermos capazes de compreender os "princípios elementares dos oráculos de Deus" atendendo ao tempo decorrido enquanto estamos na igreja, isto é, nosso tempo de crente nos diz alguma coisa, não que somos melhores do que o novo convertido, mas que temos uma caminhada maior que nos induz a uma responsabilidade igualmente maior. O autor também diz que quando alcançamos a possibilidade do alimento sólido devemos continuar progredindo (Hb 5.11-14). Assim, penso que, por causa daqueles que tiveram o privilégio de se alimentar com o alimento sólido pela sua maturidade atingida, mesmo assim descuidaram-se e regressaram ao leite, conduzindo as coisas do Reino com estupidez e pregando palavras dignas de serem direcionadas ao esgoto. Diante do exposto, veremos 4 misturas fétidas que alguns afirmam ser alimentos colhidos do Evangelho, mas não são, obviamente.

1. Resolução de problemas pessoais: por que estamos a caminho de casa, por exemplo, seja no carro, no ônibus ou qualquer forma de condução e nas vitrines de algumas igrejas lemos "pare de sofrer" ou "venha buscar o seu milagre às 20h"? E por que tais igrejas são tratadas como cristãs evangélicas? Quais direitos possuem estas instituições de abrirem a Bíblia e falar de Cristo? No entanto, estes absurdos traspassaram limites, alcançaram seus principais objetivos, as pessoas sofridas, gente sem muita informação, machucadas pelos sistemas governamentais pessimamente administrados, famílias que não possuem acesso mínimo à Saúde, não podem desfrutar de um acompanhamento médico regular garantido gratuitamente por lei. O que dizer acerca da Educação e Segurança oferecidos à população? Segue o jogo, rola a bola e todos sofrem continuamente. A estes lhes são oferecidas promessas de cura, de resolução de causas judiciais, de problemas familiares... E, claro, as pessoas querem resolver seus problemas, e como estão exaustas de passarem as madrugas esperando por uma possibilidade terrivelmente duvidosa de serem lembradas, aceitam as palavras de quem treinou bastante a sua fala a fim de amarrarem mais uma vítima, que, mesmo não tendo nada, arrancam o que lhes sobram. Como dizem, de grão em grão... Mas isso não se limita a tais "igrejas" despudoradas, a mesma ideia já se infiltrou nas igrejas seriamente bíblicas. Não dizem o tempo todo que Deus vai restituir aquilo que se perdeu? Não afirmam tanto que Cristo vai curar, vai abençoar e resolver questões não resolvidas da vida do povo? Não compõem músicas cuja letra enfatiza o "eu", promete abençoar, dar vitória, só vitória e só vitória? Não pregam que o Senhor vai fazer com o crente como fez com Fulano, Cicrano e Beltrano na Bíblia? O Senhor disse que veio para que tenhamos vida, que as suas palavras são espírito e vida. Onde será essa vida? Aqui? O Senhor caiu ao levar a sua cruz, alguém chamado Simão tentou ajudar, mas não conseguiu, Cristo é quem levou a sua própria cruz. Você sabe por quê? A vida que nosso Senhor prometeu é no céu com ele eternamente. Simão não conseguiu carregar a cruz de Cristo porque a cruz não era dele, mas de Cristo. Todo aquele que segue a Cristo, deve, primeiro, negar-se a si mesmo e tomar a sua própria cruz. Quem tem ajuda é um, quem precisa de ajuda é outro. Cristo é quem nos ajuda a carregar a nossa cruz, não o contrário, afinal, neste mundo teremos aflições, mas ele estará conosco. Portanto, se tem uma coisa que o Evangelho não é, caro leitor, sem dúvida, é isto: o Evangelho não é uma mensagem de resolução de problemas pessoais.

2. Cumprimento de promessas aleatórias: e por que falam tanto em promessas, no plural? Por que citam promessas na Bíblia como se elas não tivessem sido já cumpridas? Por que ignoram os textos e seus devidos contextos? Como é fácil atrair os sentidos das pessoas! Falar o que as pessoas querem ouvir, dizer o óbvio, filosofar de maneira vã, praticar o famigerado "enrrolation" visando os holofotes para si, objetivando fama, poder, trono e intocabilidade... Tudo isso caracteriza crime hediondo contra a Lei do Senhor e o próprio Deus, uma loucura exegética contra a Palavra, uma aberração contra as perícopes sagradas do Evangelho poderoso de Deus, uma perversão, um adultério, uma maldição. Os eleitos do Pai nunca se prestarão a práticas repulsivas assim, porque o próprio Deus lhes dará sabedoria e entendimento. O Evangelho é a narração da história da Redenção, o porquê dela, para quê, para quem, por quem e de que maneira, independente de concordância ou discordância entre os homens, culminando numa única promessa cujo cumprimento foi selado na cruz do calvário, em Cristo, e será plenamente desfrutada pelos eleitos na Eternidade com Deus. Portanto, se tem outra coisa que o Evangelho de forma nenhuma é, caro leitor, é isto: o Evangelho não é um manual de cumprimento de promessas aleatórias, nem pregado, tampouco cantado.

3. Entretenimento cultual: uma coisa é você sentar e assistir a uma produção cujo tema pode ser eventual, até mesmo sobre Cristo, mas outra bem diferente é você ouvir a palavra de Deus, bem falada, exposta, explicada e aplicada. No culto a Deus você ora a Deus, canta para Deus, oferta a Deus, enaltece a Deus e prega sobre Deus. Atualmente estão orando sobre Deus e para o homem, cantando sobre Deus e para o homem, ofertando para o homem, enaltecendo a qualquer coisa e dizendo ser a Deus, contando histórias quaisquer, fazendo rir, passando um vídeo, uma peça, um musical, uma inspiração musical, testemunhos e qualquer outra moda que inventem, mas esqueceram de chorar aos pés de Cristo, reconhecer a dependência total de Cristo, agradecer pela Graça Irresistível de Cristo e enaltecer sem pressa a pessoa de Cristo. Tudo isso porque não há mais zelo na exposição do Evangelho, na verdade não há mais exposição do Evangelho, mas vê se falta campanhas e programações meramente humanas e corporativas para preencher lacunas nos cultos! Existem multidões pintadas e vestidas coloridamente, dançando e mexendo seus panos e corpos, pecando e adulterando com seus panos e corpos, produzindo entretenimento apenas. Portanto, se tem mais uma coisa que o Evangelho não é, caro leitor, é isto: o Evangelho não é entretenimento cultual, não precisa de cores nem de panos, nem de risos, mas de lágrimas.

4. Psicologia, seja a falsa (coaching) ou a científica: Jesus não foi o maior psicólogo de todos os tempos, ele é o Filho do Altíssimo Deus, o próprio Deus. Há uma gigantesca diferença nisso. Hoje, as pessoas tendem a colocar inúmeros títulos a Jesus, exceto os que ele já possui. Jesus é Cristo, Salvador, Messias, Rei, Senhor, Sumo Pastor, Criador, Eterno, Soberano, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz... Por que não o chamam assim? A Psicologia como ciência é muito importante, tem inúmeros benefícios e contribui enormemente para o avanço da sociedade como um todo, indiscutivelmente. Mas a Psicologia nada tem a ver com o Evangelho. A falsa Psicologia, ou, como costumo dizer, a "teologia coaching", nada tem a ver sequer com a Psicologia, muito menos com o Evangelho. A mensagem positivista, o dito que a solução para vencer está em você mesmo, aquilo que dizem que "eu posso", "eu consigo", "eu sou o único obstáculo para o meu sucesso", toda essa balela entrou na igreja e bagunçou muita coisa, associou-se com a antiga teologia da prosperidade, evoluiu-se monstruosamente e despiu parte do povo. Quando se põe de lado e Texto Sagrado abre-se oportunidades incontáveis para se falar o que quiser, selecionar opções numa prateleira e deixar à vontade para o povo se servir como quiser na igreja do cristo pragmático. O aproveitamento alheio do pregador coaching assemelha-se aos mesmos objetivos daqueles pérfidos que pregam a resolução de problemas pessoais usando o nome do Salvador, calculando quanto é possível extorquir financeira e psicologicamente dos ouvintes, atrair para um ciclo e enredar viciosamente para sempre repetir, repetir, repetir... Portanto, se tem uma última coisa que o Evangelho não é, não mesmo, caro leitor, é isto: o Evangelho não é mera Psicologia, teologia coaching ou pragmatismo, não é servido conforme o gosto do freguês ou do dono do restaurante, mas é a Palavra que corrige, causa dor e leva para Cristo sarar. Portanto, Sola Scriptura.

O Prolífico.

Postar um comentário

0 Comentários
Postar um comentário (0)
To Top