POR QUE AFIRMAM TANTO QUE DEUS É AMOR, MAS NÃO JUSTIÇA?

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Imagem: Cinismo Ilustrado.

Pode haver um equívoco singular quando se diz que Deus é amor, sobretudo nos dias de hoje, onde parte da Igreja se encontra mergulhada num evangelicalismo pandêmico. Traduzem a mensagem bíblica sem abrir a Bíblia (isso é possível?) e colorem a história da Redenção com romantismo, romanismo (como diria Hodge), apelo e labilidade emocionais, onde, ora choram, ora gargalham, mas dificilmente arrependem-se de seus pecados e degustam do sabor refinado da Lei do Senhor, aprendendo e pondo em prática por onde quer que andem. As estantes das livrarias "evangélicas" que o digam. Muita autoajuda, psicologia (as vezes nem tanto ou nenhuma), pragmatismo desmedido, mensagens positivistas demais, bênçãos e promessas sobrepondo o fundamento da Lei, a obediência irrestrita a Deus, principalmente do seu povo e o sofrimento por causa do nome de Cristo. Penso que foi nos anos 1990 que começamos a ver coisas estranhas, até mesmo absurdas, dentro das igrejas evangélicas no Brasil. Todavia, isso vem sendo plantado com significativa eficiência há algumas décadas antes. A colheita ruim parece que chegou aos púlpitos e, diga-se, seria ótimo que pudéssemos passar logo por isso e esquecermos tão desgraçada safra desde então. Mas, odeio confessar, isto não vai passar. Na verdade, vai piorar, o que me entristece por um lado, mas me alegra por outro por lembrar-me que logo vem o nosso Senhor Jesus Cristo, triunfante, acabar com essa palhaçada que andam fazendo com a sua Palavra e o Seu Nome. O fato é que existe uma dificuldade, ou até mesmo uma impossibilidade de boa parte da Igreja enfrentar determinadas "teologias" vindas do pragmatismo, vestidas de publicidade e marketing, liderada pelo homem corrupto intitulado "deus" e aproveitada pelo "deus deste século". Acreditava eu no início dos anos 2000 que a famigerada teologia da prosperidade seria extinta, mas vejo que apenas se moldou à época mercantilista e "gospelizada" em que vivemos atualmente, as vezes renomeada de "teologia coaching", pós-pentecostalismo, igreja soberana, ministério de dança ou artes, igreja social, ou qualquer outra loucura humana. Engana-se quem achou que os remanescentes da antiga comunidade "Adoradores Extravagantes" do extinto Orkut seriam os únicos cristãos entorpecidos de hoje. Quando lemos na Bíblia que Deus é amor, faz-se necessário compreender que amor é esse, já que em português "amor" pode significar muita coisa, inclusive idolatria. Não sei em que estavam pensando os autores da imagem que ilustra este post, mas quero deixar claro aqui que sim, no final todos morreremos, muitos para Cristo de uma forma decisiva em virtude do pecado adâmico, e alguns para o mundo, desde o livramento e eleição por Cristo Jesus. Então, vamos tentar entender o seguinte:

Primeiro, na língua escrita do Novo Testamento, o koiné, há muitos tipos de amores, dos quais cada um possui seu significado devidamente posto em seus respectivos lugares. Para quem ama o sexo oposto, há um amor exclusivo para isso. Para quem ama o seu irmão, outro amor. Para quem ama seu pai ou sua mãe, um amor só para ele. Para quem ama trair, também há um "amor" específico. Para quem ama jogos egocêntricos, também existe um "amor" que lhe é peculiar. Para muitas coisas, eticamente ou não, os pensadores gregos da época definia com um termo específico para tal, separando legitimamente cada um de acordo com a sua "forma" de amar. Hoje, há aqueles que já introduziram ou aqueles que se alimentam do "eu amo de várias formas" e ainda citam o nome do Senhor dizendo "de várias formas como Jesus amou". Infelizmente eles têm o auxílio da nossa língua e até de versões bíblicas que são muito mais paráfrases do que propriamente Bíblia, onde qualquer sentimento considerado forte por qualquer pessoa, coisa ou situação, independente se vai de encontro ou não à Bíblia, é chamada de amor. Quando Deus envia o seu Filho para salvar os seus e este questiona Pedro, quando Paulo leciona acerca do melhor dom, e quando o apóstolo do amor, João, afirma expressamente que Deus é amor, há somente um termo para este atributo de Deus: agapê.

Segundo, no amor de Deus (agapê) há graça e justiça divinas. Hoje, muitos cristãos se orgulham ao afirmarem ser cristãos. Nem os hebreus tinham esse direito, por que nós teríamos? Orgulho tem a ver com mérito próprio, quando alguém se orgulha de algo, e dependendo do caso não há nada de errado nisso, comemora suas conquistas e méritos. No entanto, quem disse que o fato de sermos a nação de Deus é motivo de comemoração por nossa conquista e mérito? "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava." (Dt 7.7,8). Em primeiro lugar, a graça de Deus atua no amor quando ele escolhe, e não nós, o povo que ele determinou para ser seu, sem mérito algum de ninguém, mas apenas por vontade soberana própria e indiscutível. Em segundo lugar, a justiça de Deus se manifesta no amor de forma que não a compreendemos totalmente, livrando o seu povo eleito, por um motivo que só ele sabe, posto para nós como um ato de amor, graça e justiça. Doutra forma nunca conseguiríamos conviver pacificamente sem sequer questionar todo o tempo o porquê deste amor, graça e justiça. Se não fosse assim, a Bíblia não nos diria, por exemplo, que esse amor suplanta nossa compreensão (Ef 3.19), que esse amor é eterno e atrai com benignidade (e não nós que o atraímos - Jr 31.3), que esse amor cura e não vem de outro, senão de Deus (Os 14.4) e que esse amor é exclusivo (Jo 13.1). Assim, sabendo que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação, leia a Bíblia com temor e tremor, essencialmente quando ler acerca do amor de Deus.

Por último, no amor de Deus (agapê) existe expiação. Imagine que você e o seu irmão, quando crianças, estão brincando. Você comete um erro grave e seu pai o questiona por ser o mais velho e, de pronto, você culpa o seu irmão. Ele é responsabilizado, leva umas palmadas, é castigado e pelo menos por alguns dias passa a odiar você, afinal, ele não fez nada. A diferença com relação a Cristo é que ele não odeia o povo que seu Pai elegeu para si, ele ama com graça e justiça. E é com graça e justiça que ele assume o nosso lugar, livrando-nos da ira do nosso Pai, assumindo em nosso lugar toda a culpa, sem ter ele cometido falha alguma. Isso é expiação. O amor de Deus nada tem a ver com ele se agradar do homem e por isso elegê-lo, porque este é pecador e distante está da glória de Deus. Nada tem a ver o amor de Deus com Jesus se oferecer ao homem como se fosse uma atração artística, um entretenimento eclesiástico ou uma mercadoria a ponto de apelarem insistentemente: "quer aceitar a Jesus?". Ninguém aceita a Jesus. Jesus é quem convence a quem ele quer. O amor de Deus tem a ver com ele decidir por si próprio nos eleger para a sua eternidade, porque quis. Parem de colorir o manto sagrado de Cristo que foi manchado com seu sangue em favor do seu povo. Soli Deo Gloria.

O Prolífico.

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