MINANDO A IGREJA DE DUAS FORMAS (e o exemplo de William Carey)

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Imagem: Google.

Conversava com um amigo que tem um ano a mais de ministério pastoral se comparado a minha idade, e, dizia como é possível um pastor minar uma igreja. Ele me perguntou recentemente se a nossa igreja estava bem. Eu respondi que sim e dali em diante a conversa avançou sobre igrejas e pastores, sobretudo, aqueles que plantam claymores ao invés das Escrituras para um rol fundamentado. Num dado momento da conversa afirmei que o andamento de uma igreja pode seguir ao menos dois caminhos: o pastor envolvê-la na Sã Doutrina e ser correspondido; ou o pastor encantá-la com métodos pragmáticos, despertando os irmãos ao que eles acham ser bíblicos e, execravelmente, mina-los. Sob tais possibilidades, vamos pensar sobre a segunda, sob duas formas possíveis de minar uma igreja.


1. Minando a igreja com métodos participativos:


É possível minar uma igreja utilizando-se de métodos participativos. Uma boa tática para muitos líderes nos dias de hoje é envolver os cristãos em pequenos, porém, sutis, momentos de significativa participação. Vejamos, por exemplo, o ofertório. Biblicamente o ofertório é apenas um dos elementos de culto que devemos participar, onde, voluntariamente e de coração grato, depositamos na igreja parte dos nossos bens para honrarmos a nossa participação como membros de nossa igreja, abençoando a obra local. Tocamos músicas que adoram a Deus, geralmente com o tema de gratidão, enquanto saímos dos nossos lugares (em algumas igrejas os obreiros recolhem nos bancos) e ofertamos e/ou dizimamos. Ao término deste momento os tesoureiros recolhem os valores e guardam. Oramos em gratidão a Deus pelas vidas que dizimaram e ofertaram, pelos demais e pela igreja na administração destes bens. Até aqui tudo bem. Nos últimos dias, entretanto, começo a perceber que muitas igrejas, por sugestões dos pastores, estão alongando o momento do ofertório, trazendo, inclusive, muitas pessoas a frente, com o intuito de dar-lhes oportunidade de expressar a fé, alimentando o ego de querer aparecer na programação, nas fotos e nos vídeos que logo serão publicados na grande rede. Como se não bastasse, não se ora mais objetivamente, agora estão realizando duas ou três orações, e, de longa duração, onde o pastor e os obreiros presentes mal sabem orar, pois apenas repetem o mesmo mantra de sempre ─ abençoa, Senhor, dá vitória, prosperidade, etc.


Por que vejo isso como um problema? Porque não passa de métodos para envolver os irmãos, e, com isso, encher os cultos. Sem dúvida as entradas aumentarão porque aqueles que desejam ir a frente com um discurso de agradecer ou testemunhar algo, não irão sem contribuir. Toda gestão empresarial visa uma meta principal. Neste caso, a meta é aumentar as entradas porque o pastor fez um apelo há alguns cultos onde o elemento fé foi exposto, para construir salas, comprar instrumentos, melhorar os equipamentos, instalar ar condicionado, etc. Diante disso, quem pagará estas contas, uma vez que tudo já foi adquirido?


Há alguns anos ouvia de pastores piedosos que muitas igrejas estavam se rendendo a horas de músicas e minutos de pregação. Há poucos dias li um texto que nem a pregação existia mais em muitas igrejas de hoje. Agora estamos vendo um novo método de fazer "crescer" as igrejas locais?


Os métodos participativos, de fato, são excelentes para envolver a igreja local nas atividades semanais. Muitos, inclusive, abraçam a ideia com bons olhos, e, de coração, servem a Deus e ao próximo. Tal igreja cresce sobremaneira. Tal igreja se torna modelo das outras. Seu pastor é visto como um homem sábio, de Deus, desenrolado, que realmente possui o chamado divino. Todos os resultados destes métodos são publicados nas redes sociais. A cada fim de domingo a equipe de mídia ─ que agora se tornou um ministério, e dos mais importantes ─ reúne as melhores fotos e vídeos curtos, publicam seus carrosséis, stories, legendam cortes do sermão, devidamente escolhido exatamente naquela parte que o pastor fala o que os seguidores querem ouvir, precedido do convite: "Estejam conosco no próximo domingo!", implícito com a mensagem que realmente desejam externar: "Deixem a igreja de vocês, venham para a nossa! Aqui nós te abençoaremos, tem crianças e adolescentes na porta com um largo sorriso, cartazes, camisas personalizadas, luzes, maquiagens, perfumes e muitos outros acessórios. Vem pra cá!"


Noutro sentido, muitos têm feito da igreja local um lugar de entretenimentos. Arte e diversão precisam de um novo ministério para gerir as demandas e ser taxado assim nas redes sociais ─ inclusive com mais um perfil à parte da mesma igreja: um para a juventude, outro para as crianças, outro para as mulheres, outro para os homens, outro para o ministério de louvor, etc. "Se não fizermos nada disso o povo não vem", dizem os pós-modernos. O que muitos não percebem é que a igreja, em sentido geral, perdeu a sua identidade, muito além de denominacional, mas biblicamente. Pregam o "ide", mas não cumprem, ou, vez ou outra, organizam viagens, eventos, impactos evangelísticos, etc., e tarjam a igreja local como "missionária", mas apenas como uma missão quaternária. Enquanto isso os jovens estão ficando com as novinhas de fora, os adultos estão se divorciando e recasando, ou, formando famílias de jugos desiguais ─ os pais de pets que o digam.


2. Minando a igreja com métodos exclusivistas:


Como se fosse coisa de somenos, muitas igrejas estão mantendo seus nomes denominacionais, mas retirando as características que fazem sentido ao nome que possuem, tornando-as com isso meras igrejas sem identidade, ou, como prefiro observar, igrejas sob a identidade exclusiva do seu pastor semideus. Retiram as organizações históricas, mudam a liturgia, a música, a pregação, etc. Os membros são proibidos de visitarem outras igrejas. Outros pastores são proibidos de opinarem ou conversarem com os membros. Apenas os pastores amigos do pastor local, que pensam de maneira idêntica, líderes de outras igrejas em mesma situação é que podem participar desta "comunhão". Os membros são tratados, doutrinados, preparados para aceitarem tiranias assim, por isso muitos ainda pensam fazer parte de uma igreja bíblica.


O singular exemplo de William Carey

Os maiores exemplos de fé para as igrejas que estão caminhando assim não são mais os profetas do AT, os apóstolos do NT, os Patrísticos, tampouco os pastores do passado que deixaram rastros de seus trabalhos árduos no empenho da glorificação de Deus. Que pena!


William Carey nasceu na Inglaterra em 1761 e morreu na Índia no ano de 1834, país onde deixou a marca de Cristo. Já aos 14 anos discutia teologia com seus amigos. Carey acumulou muitos conhecimentos, sobretudo em linguística. Aprendeu latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês. Ele caminhava 14Km para estudar hebraico. Pergunto-me o que fazem os jovens das igrejas de hoje. Conversam sobre teologia, Bíblia, moral, pecado...? Ou apenas trocam ideias sobre redes sociais, games, influenciadores digitais? Eles sacrificam seus dias para a glória de Deus? Caminham longas estradas em busca do conhecimento e da glória de Deus? Eles sabem mesmo o que é a Glória de Deus? Os pastores realmente estão instigando-os, bem como toda a igreja, e viverem uma vida de sacrifício pelo Evangelho?


William Carey foi batizado aos 22 anos numa igreja batista e um ano depois foi consagrado ao Ministério Pastoral. Aos 31, Carey e mais 12 ministros fundaram a Sociedade Batista Particular para a Pregação do Evangelho. Foram 41 anos de missões na Índia.


Pastor e missionário batista William Carey (Imagem: Christianity Today).



Carey não foi um missionário qualquer. Por ser também um pastor devidamente ordenado, ele apascentava. Sua preocupação não era estritamente social, política ou filosófica, mas salvífica. Seu fundamento não era humanístico. Seu objetivo não era ser reconhecido, por isso, em seu leito de morte, disse: "Quando eu me for, não fale do Dr. Carey, fale do seu Salvador." Sua máxima não era ganhar almas, isto é ofício do Espírito Santo. Sua máxima resumia-se em pregar o Evangelho às vidas sem Deus, por isso também repetia que "a arma principal do missionário é a 'Doutrina da Cruz'".


Com forte parceria de William Ward e Joshua Marshman, Carey fundou 26 igrejas, 126 escolas (10 mil alunos beneficiados). Traduziu a Bíblia em 44 idiomas, produziu gramáticas e dicionários. Organizou a primeira Missão Médica na Índia. Construiu Seminários, escolas para meninas e um jornal na língua Bengali. Fundou a Sociedade de Agricultura e Horticultura da Índia. Montou uma fábrica de papel e máquina de imprensa. O Evangelho chegou no Afeganistão através de uma tradução bíblica para um dialeto local (Pushtoo). Havia um costume na Índia chamado Suttee que consistia na viúva que acabara de perder seu marido se sacrificar junto ao corpo do falecido como sinal de amor, devoção e submissão, logicamente de uma compreensão totalmente equivocada. Outro costume era o sacrifício de crianças queimadas e jogas no rio Ganges. Carey erradicou com o poder do Evangelho esses dois costumes. Após sua morte havia uma liderança bem estruturada biblicamente antes preparada por Carey. O governo britânico homenageou-o com os dizeres "fez mais para a Índia do que generais britânicos", por seus serviços prestados ao povo da Índia içando bandeiras a meio mastro. Sua fé era baseada na Confissão de Fé Batista de Londres de 1689.


O que você tem feito além de produzir camisas com temas genéricos, introduzir entretenimento e arte do Culto Solene e encher o púlpito de pessoas no momento mais inoportuno, o Ofertório?


Congregue numa igreja bíblica, onde o pastor seja bíblico!


O Prolífico.

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